10 agosto 2006

O empecilho nuclear

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=13&id_news=239177

Nuclear: Câmara de Loures quer reactor fora de Sacavém

O presidente da Câmara de Loures defendeu, esta quinta-feira, a mudança de sítio do reactor nuclear de investigação de Sacavém, argumentando que a zona de exclusão à volta do equipamento prejudica a qualidade de vida dos habitantes.

Em declarações à agência Lusa, Carlos Teixeira (PS) afirmou que o reactor do Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN), tutelado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, deve ser «deslocalizado para uma área em que não dê origem a preocupações».

O autarca afirmou que a zona de protecção, «com um raio de 400 metros» em volta do reactor, «inviabiliza o crescimento normal da freguesia e, consequentemente, a qualidade de vida das populações».

Carlos Teixeira afirmou que o perímetro de segurança dividido em três zonas (exclusão, controlada e vigiada) já dificultou a legalização de bairros de génese ilegal e inviabilizou a instalação de uma unidade comercial.

«Se há algum risco de acidente [com o reactor] tem de se mudar já e temos pessoas qualificadas para avaliar isso», defendeu, frisando que «a preocupação da Câmara é salvaguardar a segurança das pessoas».

Por outro lado, «está na altura de quem decide avaliar se se justifica a zona de protecção», disse Carlos Teixeira à Lusa, afirmando que «se não há perigo, não há razão para manter a zona como um "gueto"».

Carlos Teixeira lembrou que a zona de protecção do reactor, a funcionar em Sacavém desde 1961, «abrange a Estrada Nacional 1», factor de risco acrescido «se houver algum perigo», uma vez que aquela via está muitas vezes congestionada e por ali passam veículos com cargas perigosas.

O autarca disse ainda que a câmara conhece o plano de emergência interno do ITN, considerado para o plano de protecção civil do município de Loures.

O reactor nuclear experimental, licenciado em Janeiro deste ano depois de mais de 40 anos a trabalhar sem licenciamento, mas controlado por uma comissão independente de cientistas.

Típico.

Durante quarenta anos, o reactor esteve ali, a funcionar, toda a gente sabia daquilo, e nunca houve problemas. Nunca ninguém disse alto e bom som que a instalação "atrapalhava", ou que não estava bem ali.
Surgiu há dias uma notícia que dá conta de um problema meramente burocrático. E, de repente, o reactor já estorva, a zona de protecção é um empecilho, e a instalação já é uma ameaça à segurança e qualidade de vida das pessoas.
O senhor presidente da Câmara de Loures está muito preocupado porque não deixam construir num raio de 400 metros da instalação. Ou seja, o que ele realmente quer é que o reactor saia dali para se poder licenciar mais umas construções de prédios e centros comerciais - como toda a gente sabe, Loures é quase um deserto e precisa que se construa mais... (e sim, estou a ser irónico).
Para disfarçar, lá vai mandando os argumentos da qualidade de vida e da segurança das pessoas. Agora expliquem-me: qual é exactamente o motivo pelo qual a zona de exclusão afecta a qualidade de vida de seja quem for, para além dos empreiteiros que poderiam ali construir se ela não existisse? Será que a qualidade de vida das pessoas melhora com mais 150 prédios cheios de gente ali encostadinhos, e provavelmente a usar as vias que já existem, sem qualquer melhoria?
Quanto à segurança, é certo que ter um reactor nuclear, ainda que experimental, "pequeno" e bem regulado, não é propriamente abonatório da segurança de quem mora nas imediações, mas acreditem: ter a Nacional 1, a A1 e o IC2 a passar lá ao pé é bem pior.
É típico, sim... típico de quem quer ter protagonismo por nada.

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